O movimento hippie nasceu na California em 1966, e surgiu como contestação da juventude contra a Guerra do Vietnã. A invasão americana no Vietnã com a intenção de exterminar o comunismo e fazer valer o capitalismo, consternou a juventude americana cansada e indignada também com a sociedade de consumo. Como forma de chocar e zombar a sociedade (a palavra hip em inglês significa zombaria), jovens estudantes passaram a usar roupas de algodão coloridas, colares diversos, barbas enormes e estilo pouco convencional para o americano comum. Dentro desse estilo de vida alternativa pregavam o uso indiscriminado de drogas como forma de portas para uma maior percepção do mundo. Timothy Leary, professor de Harvard, psicólogo e neurocientista, começou a disseminar o uso da substância LSD (lisergic acid diethylamide) que a principio foi descoberta acidentalmente por Albert Hoffman. Timothy pregava o seu uso para expansão da mente e dizia que num futuro próximo todos usariam como meio de laser e busca da espiritualidade. Inclusive Leary apresentou a droga a John Lennon e popularizou o seu uso para o movimento hippie que já usava drogas como a maconha. Além dessa contestação política e social houve também outro tipo de revolução que foi a sexual. Wilhelm Reich foi grande ídolo dos hippies, pois pregava que a agressividade do jovem estava ligada à repressão sexual imposta pela sociedade patriarcal e conservadora em que viviam. O movimento hippie praticamente inaugurou um estilo de vida avesso à sociedade vigente, e formou comunidades rurais retiradas das cidades, onde viviam livremente tendo o artesanato e a criação de hortas como forma de subsistência. O apogeu da cultura hippie foi em 1969 no Festival de Woodstock, que reuniu os artistas mais representantes do movimento com um público de quase 500 mil pessoas numa fazenda próxima a Nova York. O festival foi considerado uma celebração de paz e teve o rock de Jimi Hendrix, Joe Cocker, Janis Joplin como trilha sonora dessa geração transgressora.
Festival de Woodstock que ocorreu em 1969 e foi marco da geração hippie |
O movimento hippie no Brasil repercutiu bastante, porém não da mesma maneira contestadora devido ao período de repressão do governo militar e a ditadura. O movimento que mais se aproximou desse ideal hippie foi o Tropicalismo, que tinha todo um contexto de luta contra a ditadura e a liberação dos costumes tanto na música quanto no sexo e nos movimentos estudantis. Os grandes expoentes do movimento foram Caetano Veloso, Gilberto Gil e os Mutantes que com uma mistura de música popular brasileira e rock mudaram os rumos da música feita no Brasil antes restrita somente a bossa nova. Infelizmente vários dos artistas eram perseguidos pela ditadura e foram exilados. Boa parte dos “cabeludos” e adeptos da cultura hippie também tiveram que fugir para as praias desertas baianas e para o interior de Goiás onde permaneceram até os dias de hoje. Muito da cultura hippie ainda existe, como, por exemplo, as feirinhas de artesanato que perpetuaram os costumes hippies tanto no visual quanto na atitude e filosofia de vida.
A arte hippie
O hippie Washington Dias de Paula expondo seu trabalho |
Um exemplo vivo da filosofia hippie e que o Inteirados teve, por acaso, o prazer de entrevistar é Washington Benedito Dias de Paula. Washington ou WBDP, como assina seus trabalhos, é um personagem e tanto e ainda encarna com convicção o estilo hippie. O artesão que é da Bahia (por ser totalmente “on the Road” e nômade não conseguimos descobrir onde ele nasceu e nem morou) trabalha com pintura desde criança e há uns seis anos produz um tipo de pintura feita em azulejos ou pisos de cerâmica. Usando tinta à óleo, Washington pintou uma paisagem no piso cerâmico em menos de 7 minutos. Ele disse que chegou a expor seu trabalho no metrô de Paris. O artesão conversou bastante conosco e comentou como é difícil ser compreendido e respeitado pelas pessoas. A própria polícia o abordou e Washington nos relatou um fato bem engraçado.“A policia outro dia me abordou e pediu que eu colocasse a mão na cabeça, eu com medo, é claro, logo levei as mãos à cabeça e o policial me disse pra pegar os documentos. Como eu ia fazer pra pegar os documentos se estava com a mão na cabeça?” , comentou o artesão com um sorrisão na cara. Washington também fez questão de frisar a dificuldade que tem de expor seu trabalho, principalmente nas praças públicas de certas cidades que cobram impostos e pedem autorização ao artesão. Num papo bem descontraído com ele, entramos num consenso que arte tem que ser livre e sem amarras. A verdadeira arte surge da pureza dos sentidos dos artistas.
Pra conferir melhor essa conversa, acesse a entrevista no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=nwwKjUYlOZ8
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