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Geração do Botão

Numa conversa divertida com minha mãe esses dias, notei e observei a história passando nos meus olhos. Tomando um café bem gostoso, a cozinha cheirava a nostalgia, e foi quando ela começou a me falar da época em que trabalhava como escriturária na prefeitura. Usava-se a velha máquina de escrever e como ela trabalhava no setor de arquivos da prefeitura, todos os documentos eram guardados nas velhas estantes de metal. Devia dar um trabalhão e qualquer consulta a algum documento ou arquivo demorava dias. Eu de praxe logo achei um absurdo, porque hoje em dia com o computador realizamos as tarefas do dia a dia tão rápido que nem nos damos conta ou refletimos de como fizemos. Percebi que houve um confronto de gerações, e senti certo saudosismo nas palavras de minha mãe. Aliás, ela comentou muito brava comigo que dias atrás teve que ir ao banco pra retirar seu dinheiro do caixa e não conseguiu realizar tal tarefa. Com o punho serrado de raiva, disse que a máquina estava enganando-a. Achei engraçado e disse para ela ficar tranqüila, que de vez em sempre os bancos alteram as senhas e tal. A maioria dos aposentados sofre com esses cadastros de senhas e mudanças corriqueiras de sistemas informatizados. Parece que o que o veio pra facilitar pra gente, a geração do botão, para eles veio para complicar, com seus comandos e botões complexos. A facilidade e rapidez que se tem hoje de, por exemplo, assistir TV, um filme ou fazer uma compra é imensa, desde que você use e abuse dos botões sendo eles reais ou virtuais. Há botões pra tudo como, por exemplo, tirar o dinheiro do banco, telefonar do celular, usar o computador e até cozinhar um pato no microondas. Talvez a dificuldade de minha mãe se explique por ela pertencer a uma geração que não conheceu a revolução tecnológica que surgiu com a invenção do transistor e creio que certas coisas você aprende desde criança. Certos hábitos que você adquire na infância ficam guardados para sempre, e a molecada já nasce em frente a tela do vídeo game e sabe melhor que nós adultos determinadas coisas. Outra dificuldade que achei interessante foram as terminologias de certas ações da informática que os mais velhos não entendem mesmo. Com certeza minha mãe aprendeu quando criança que salvar queria dizer socorrer alguém que estava em perigo ou coisa assim. Jamais passa pela cabeça dela que “salvar” tem esse significado que tem pra gente, geração do botão, que é de guardar ou armazenar. Deletar então, fica difícil até de explicar o que siginifica. Parece que estou falando outro idioma que não inglês e nem português. Com certeza uma geração que trocava os canais da TV nos velhos sintonizadores analógicos gigantescos, não vai se adaptar fácil aos pequenos e complexos controles remotos cheios de seus “menus”, “standy by” e outras terminologias “inglesadas”. Acredito que a dificuldade de minha mãe é o medo tremendo de errar e realizar as tarefas sem convicção. Outro dia mesmo na fila do banco observei um senhor ao meu lado dizendo:
- Moçinha, por favor, preciso de sua ajuda pra tirar meu dinheiro. Tenho medo de apertar algum botão errado e cancelar minha senha ou minha conta.
Entre essas e outras canso um pouco de entender minha mãe e ela de me entender, porque pertencemos nitidamente a mundos paralelos completamente diferentes. Não recrimino o seu saudosismo até porque a época dela foi um tempo onde se dava mais valor para as reflexões, deixando a vida da gente menos mecanizada.

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