Pelo facebook, grupo de poetas de Araras criaram o movimento Pontoação, uma nova maneira de manifestação da arte
Irineu Curtolo, proprietário do sebo na Rodoviária de Araras, criou o conceito Pontoação em 1999 |
Para que um poeta pudesse divulgar seu trabalho no século XX precisava de apoio financeiro, e era necessário publicar suas obras em livros para que todos tivessem acesso. O contato com a palavra e também o contato de artistas com outros artistas se davam por meio de encontros em confeitarias, bares e café. Assim aconteceu no modernismo, movimento artístico organizado em 1922, pelos escritores Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral entre outros que se encontravam e se conheceram na Confeitaria Vienense.
Na balbúrdia de hoje, século XXI, se depara com a evolução da comunicação por meio da internet que criou um mundo paralelo. A cultura digital propiciada pela internet influencia a sociedade aumentando a capacidade de se relacionar com pessoas cada vez mais distantes fisicamente entre si. Já no começo da década de 2000 surgiram as redes sociais que puderam aproximar pessoas com empatia de conteúdo e criar nichos diferentes e formar grupos dos mais variados gostos em comum para discutir política, cultura, esportes e inúmeros assuntos. Dentro desse novo espaço virtual se formou o Grupo Pontoação, que é um grupo existente no facebook, formado por poetas ararenses apaixonados por arte e literatura. O conceito artístico, que foi criado pelo escritor e dono de sebo, Irineu Curtulo em 1999, chama-se Pontoação, por misturar a pontuação da reticência com ação, movimento dentro da manifestação artística.
Quando Curtulo criou o Pontoação sua ideia principal era convergir e integrar a arte. “Minha ideia inicial era que uma obra de arte pudesse ser concluída a partir da criação de outras pessoas, promovendo assim uma integração entre a obra e seus vários ramos como uma pintura inspirada em uma peça de teatro ou uma música completando a ideia de um poema”, explica.
O conceito é simbolizado por meio da reticência que é colocada no final dos textos e poemas escritos pelos componentes do grupo. “A reticência significa um símbolo fechado, que colocado sobre as últimas palavras dos textos permite que esse texto seja aberto, e concluído por outras pessoas que não só o autor”, definiu o organizador. De acordo com o escritor que é autor de inúmeras obras como Orbitas Paralelas I e II, a iniciativa de criar o conceito que migrou para o facebook no começo de 2011, é exaltar e divulgar somente obras autorais. “Hoje a internet promove integração e permite que você divulgue sua obra e não dependa da indústria editorial que só seleciona livros com poder de venda e que não são necessariamente bons livros”, explica.
Desde que foi criado na internet no começo de 2011 o grupo já conta com 150 membros que postam poemas, letras de música, pensamentos e até trechos de livros e contos. Para o professor universitário e mestrando na área de mídias digitais Renato Frigo as mídias digitais estão provocando a quebra de territorialidade proporcionando que pessoas de localidades distantes compartilhem conteúdos.
Manifesto Pontoação
Como forma de consolidar o conceito e até de promover a integração dos membros do grupo Pontoação foi realizado no Centro Cultural Leny de Oliveira Zurita,, no dia 12 de julho, o Manifesto Pontoação, que consistiu no encontro presencial dos membros do grupo formado no facebook, e contou com performances musicais, teatrais envolvendo a literatura, desenho e a poesia.
Paulo Felisberto, músico, poeta e integrante do grupo |
Paulo Felisberto que é membro fundador do grupo e geógrafo, escritor e músico, afirma que o grupo não é essencialmente virtual, tanto que o fato de ter migrado para o facebook surgiu de conversas entre os membros Augusto Meneguin e Danilo Carandina que tiveram a ideia inicial de levar o Pontoação para a internet. “O grupo se organizou, primeiramente, na vida real, no contato pessoal e diálogos entre pessoas. Depois decidimos pela divulgação por meio do Facebook, e a partir desse ponto tivemos que organizar o grupo, haja vista o número de integrantes já ultrapassa os 150. Nesse momento tivemos que ajustar as temidas regras para que o grupo, como se faz necessário em qualquer espaço virtual, permanecesse coeso com os ideais do Pontoação e não fosse um espaço para postarem e divulgarem o que bem entendessem sem relação alguma com nossos objetivos”, explica Felisberto.
Ainda de acordo com Felisberto o encontro foi importante para que os membros do grupo discutissem pessoalmente a arte e sua forma essencial. “O encontro foi sem dúvida foi muito mais interessante e excitante que a interação virtual, que já é muito inspiradora. Vimos pessoas interessadas e envolvidas convergindo em um momento para fazer arte, discutir arte e viver arte. Para que o Pontoação sobreviva é preciso que as pessoas se reúnam como naquele dia, é preciso conviver entre artistas, é preciso ser artista fazendo arte de modo coletivo, com a maior possibilidade de interações que a criação permitir”, afirmou. A intenção e objetivos discutidos no manifesto é divulgar artistas que possam mostrar sua arte na internet sem vínculos com grandes corporações.
Criação Coletiva
Encontro realizado no Centro Cultural onde os artistas puderam compartilharam obras |
O direito a livre criação é pensamento comum entre os membros do grupo. Augusto Meneguin, que também é músico da Banda Veludo Azul, não vê problema em ter sua obra continuada por outra pessoa. “É algo bem curioso, o fato de ver minhas obras completadas, já que acabo visitando a alma de outra pessoa, assim como ela visitou a minha. Estamos fazendo um tipo de sexo por palavras. Ela me lê, escreve em cima. Eu a leio e escrevo de novo. O mais interessante são as orgias. Quando diversas pessoas escrevem no mesmo poema. É possível atingir um grau de surrealidade absurdo, já que cada mente tem uma história bem singular”, observa Meneguin.
O músico ainda aponta que a poesia no Brasil é mal remunerada e nem sempre recompensa o trabalho do autor. “Não há motivo para se preocupar com direitos autorais de poesia: ela não vende mesmo. E, quando vende, o autor nunca recebe, porque as editoras não são transparentes ou lucram absurdamente, deixando algumas migalhas para o autor”, completa Meneguin.
Augusto Meneguin, vocalista da banda Veludo Azul, comenta que o autor não ganha o que merece das editoras |
É claro que o modelo de divulgação da arte pela internet ainda não foi totalmente explorado e adaptado com a finalidade de remuneração. Porém para o professor Renato Frigo a internet e os canais digitais promovem maior divulgação do artista que pode criar e fazer o papel de editora. ”O caminho digital é o caminho da coletividade. Prova disso é a tendência da auto-publicação. Hoje o artista cria a obra e lança a mesma nas mídias digitais sem precisar de uma editora, galeria ou espaço físico para mostrar seu trabalho. Hoje temos milhares de exemplos de novos escritores que lançaram seus livros digitais na internet e estão sobrevivendo dessa forma”, explica Frigo.
A discussão dos direitos autorais não é um assunto que interessa aos membros do Pontoação. Afinal, como definiu Paulo Felisberto “a arte é algo construído também pelo autor e por outras pessoas interessantes e interessadas, como isso é fundamental para a construção e afirmação da importância da arte para o ser humano e principalmente para que os artistas estejam juntos e não segregados.
Construindo o quebra cabeça das palavras
*extraído da página Pontoação no Facebook
Sebo do Neu (Irineu Curtulo): Tubulações°°°
Não sofro, porém se quisesse sofrer
Sofreria, mas não sofro
Apenas embarco nos fundos dos poços
Convivo com os encanamentos
Que conduzem uns aos outros
E não sofro...
Paulo Felisberto: Tubulações°°°
Ao futuro amor que se interessar por minhas dores
Digo-lhe que elas são minhas e se quer dividir algo comigo, temos o carinho
Pois neste cano que me enfio cabe só um
Somente um deslizará tortuosamente até quebrar ossos
Somente um sentirá dores pelo corpo e a vertigem da velocidade da queda
Não se preocupe meu amor, sei que estará na outra saída para me dar o que quero receber
Assim nunca sofreremos juntos a dor que não nos pertence ººº
Oh MyGod! Meu professor de geografia! Se bem que, ele fica estranho sem os cabelos longos, os óculos e o shorts largado! Agora vejo ele de outro jeito, totalmente novo!
ResponderExcluirParabéns, Professor Paulo!
De: Aluna do Júlio Ridolfo, localizado em Araras.
Oh MyGod! Meu professor de geografia! Se bem que, ele fica estranho sem os cabelos longos, os óculos e o shorts largado! Agora vejo ele de outro jeito, totalmente novo!
ResponderExcluirParabéns, Professor Paulo!
De: Aluna do Júlio Ridolfo, localizado em Araras.