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A evolução dos fanzines


Desenterrando velhas caixas cheias de badulaques e papéis aparentemente imprestáveis, encontrei algo que me deixou com certa nostalgia cheirando a naftalina.  Estavam enterrados na caixa dentro de um envelope bege, os famosos e polêmicos fanzines. Pra quem tem menos de 20 anos, essa palavra praticamente não significa nada.

Fanzines eram publicações caseiras que continham informações sobre música, HQ, poesia, punk rock e até um pouco de anarquismo. Os primeiros fanzines eram mimeografados e montados com colagens bem toscas, mas bem criativas. Num tempo sem internet, sem celular ou email, os fanzines cumpriam o papel, pra molecada, de poder divulgar suas ideias e principalmente a cultura punk. Lembro-me que tive uma banda de punk indie rock chamada Spots, e como não havia internet, compartilhávamos nossas ideias via carta postal. Portanto os fanzines eram confeccionados, xerocados e enviados pelo correio. Seu preço era módico, custava em média R$2,00, chegando alguns até por via troca com as antigas demo tapes.

Era um tempo difícil, mas com certeza bem mais caloroso que o mundo virtual de hoje. Se for pra citar todos os fanzines da época, isso daria um livro. Os únicos que consegui guardar foram esses dois zines que estavam enterrados na caixa. Um deles é o Magazine, que era produzido pelo pessoal da Ordinary Recordings, gravadora de São Paulo que tinha em seu cast a banda Three Butchers Orquestra. O guitarrista dessa banda de garage rock, Adriano Cintra, faz parte da conceituada banda Cansei de ser Sexy.  O Magazine era produzido por Debbie Cassano e divulgava as bandas do selo Ordinary Recordings, além de muita informação sobre a cena underground nacional e internacional. Já o Scream & Yell tinha conteúdo mais abrangente com matérias sobre música, cinema, literatura e artes.


Com o passar do tempo e o maior uso da internet no Brasil, os chamados e-zines, tomaram conta do pedaço, e os velhos papeis mimeografados e montadinhos com cola tenaz morreram pra sempre. Nos dias de hoje a juventude nem sabe que existiu tal publicação e se utiliza dos blogs pra escrever sobre seus fãs ou divulgar as bandas dos amigos.

A internet com certeza facilitou a comunicação e barateou os custos de certa forma, porém naquela época eu sentia uma proximidade mais quente das pessoas. A cena underground não era esse grande ovo virtual que se tornou hoje. Ao mesmo tempo fico contente de saber que o Scream & Yell tem sua página veiculada ao site da MTV. O velho zine que estava enterrado na minha caixa cheia de papeis, hoje goza de uma reputação merecida e pode ser visto por muito mais pessoas.

http://www.screamyell.com.br/

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